Suspense!

Tenho estado com uma paranoia nova.

Imagino que há um sem-abrigo a viver nos andares de cima, uma vez que o prédio no Verão só me tem a mim e à senhora da cave. Comecei a ouvir uns barulhos e deduzi que era um indivíduo extremamente astuto, mas que não tinha tido sorte na vida e agora dormia em lugares semi-abandonados.

Durante estes dois dias, como cheguei a casa tarde, não me aventurei a desvendar o mistério. Contudo, hoje já com o sol poderoso a introduzir energia e coragem no meu ser, resolvi solucionar este episódio, para passar a outra paranoia qualquer.

Como não tenho armas (a bisnaga está na fábrica, caso alguém me chateie) e tenho medo de facas, tesouras ou fósforos, fui munida de um spray purificador do ar, que funcionaria de alibi, caso fosse apanhada pela senhora da cave ("Sinto um odor desagradável. É só isso!" - diria à D. Dolores. Não podia instaurar o pânico no palácio!)...

O 1º andar estava silencioso. Talvez demais.

Uma lista telefónica abandonada à porta... no entanto, não havia sinais de luta.

Conclui que tinha sido mesmo deixada propositadamente pelos senhores das páginas amarelas...

Continuei a subir... o medo tinha ficado no r/c a bater as queixadas de aflição. Era com o som do pavor que subia mais um degrau, ritmadamente ("Devia ter trazido uma capa nos ombros... era mais super poderosa", pensava).

O 2º andar... vazio... aparentemente já refeito das hormonas dos vizinhos juvenis em tempo de férias agora...

Nada. Não havia cobertores, sacos de plástico, restos de nada.

Tinha estado enganada este tempo todo.

Pensei para comigo: mais vale estar errada uns dias do que assassinada o resto da existência.

Feliz, desci até minha casa. Abri a porta, olhei para o acolhedor da minha sala e entrei...

...

(Não reparei nos olhos que me seguiam discretamente, nem no machado que se erguia, projectando uma ligeira sombra na parede... o resto vem no telejornal!)